segunda-feira, 6 de agosto de 2012

rola mais que o meu desejo

1.
quantos os desejos inculcados
sem imitar doses anteriores
ajudar fracos a viver
quando nem sabem o que são

2.
desejos inferiores
a coisas comuns
a diabos menores
a frustrações siamesas

3.
Jesus perdoa
os bancos sujos
apesar da revolta
apesar da cruz
e da ferrugem instalada

4.
falta de desejo
de rolar nas dunas
para além do fracasso
dos tabus e francesinhas

5.
e nada enrola
a vida num abismo
somente as palavras
presas ao corpo

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

porque esqueci não lembrei

1.
respostas ásperas sem delimitação
regras, juízos ou contemplações
apenas crueldade
em forma de esquecimento
e posterior repetição
sem brumas
espanto

2.
saltavam num vazio constante
heróis de uma vida sem rumo
apesar das promessas
das ameaças dóceis
da descrença dos que sabiam
esvaziavam a vida
sem se darem conta

3.
alegria nem no nome
num qualquer vírus ansioso
de destruição maciça
sem o merecimento próprio
dos canalhas
dos olvidados
dos sem-vergonha

4.
a frustração chegou rápido
num vaivém de amarguras
apesar do desprezo
da hóstia apodrecida
do conselho aborrecido
de um sítio de gente morta

sábado, 7 de janeiro de 2012

p'ra quê pois afeição e esperança

1.
cozinhar ternura em lume brando
enquanto a luz se desvanece
o coração fica intermitente
e o Verão vem antes
de um tempo que foi
antes que os homens
se dessem conta

2.
a promessa da vida nova
com os cornos pesados
abaixo da linha de água
afogando mágoas
sorrindo bestialidades
apenas partir situações
desespero em cacos

3.
os líderes reuniram-se
decidiram coisas
gritaram desgraças
em bi-polar tentação
de contagem de notas
enquanto o outro definhava

4.
os dias foram de vazio
aniquilando esperanças
salvações do dia
amores e perfídia
todos pareciam cair
em precipícios inevitáveis

sábado, 5 de novembro de 2011

o perfil de outro ser que desagrada

1.

os olhos fixos
num torpor qualquer
um assassino de mentes
inquisitório
alucinando a normal
letargia em que se desligam
2.
a cama era grande
fácil era o imobilismo
a fé no além
aquém das necessidades
que se lixasse o resto
3.
os dias passavam
sem que voassem
tranquilos
nas suas inúteis asas
os seus olhos vazios
o seu mundo perdido
4.
sons de rara beleza
e a estação mudou de posto
a franqueza do gosto
perfil de alarvidade
desmerecidamente
por castigar
5.
o gato não se mexia
enquanto o dono amava
esperneava
em busca de orgasmos
de pleonasmos
para a namorada endiabrada
o gato apenas estava ali
a cheirar a comida da dispensa
 
Manuel Marques, 10-04-2011
 

nem a nós encontramos no infinito

1.

interromper o oxigénio
pelo deserto desconhecido
as lágrimas esquecidas
tudo perdido
ferido
lapidado
e a quem interessa?
2.
o paraíso
isso de ajudar
para o infinito
prazer de alguns
boa consciência
no olho do cu
furacão sem tesão
3.
ter de o fazer
como acto masturbatório
sujando tudo
sem gozo
sem o prazer de o VIVER
4.
quimicamente dizendo parvoíces
nivelando a estupidez
ao culto, ao puto
que não sabe porque faz
apenas imita
até se tornar verdade
mas nunca é
5.
fechados numa caixa dura
sem entrar nem sair
oxigénio sujo
impuro como tudo
e para quê algo diferente?
Manuel Marques, Março 2011

noite de vida sem amanhecer

1.
sonhei que ardíamos
num ramo alto
quase a tocar no Céu
e o demónio saltava
o amor voava
no dorso duma pulga
na vertigem duma barata

uma porca de uma barata!
(para ser gritado com asco e raiva...)
2.
as fotos estão prontas
as pontas sujas
os beijos molhados
os porcos assados
está lá tudo
menos nós
onde nos metemos?
3.
o romance acabou
apenas a arrogância
do nada
egocêntrico vazio
de noite
de morte e tesão
apenas caído
num colchão partido.
apenas silêncio
sem orgasmo
vaidoso
sem nada
nem espelho
nem a puta
e o que pariu
Manuel Marques
11/12-03-2011
 

eu próprio sou aquilo que perdi

1.
vem dançar
sem que o sol nasça
a trapaça se descubra
o menear das ancas se esqueça
2.
recordo o sul
a perder de vista
o canário
sem alpista
a vista turva
a morte a dançar
um slow
sem frio
nem o abutre fugiu
3.
a fogueira
de um corpo
excitado
e um assado
enamorados
num abismo
sem retorno.
4.
no gelo
paisagem perdida
lá em baixo
a gritar
um olhar vazio
só eu via
o teu amor.
Manuel Marques
11-03-2011