terça-feira, 11 de março de 2008

003 A curva da tua boca


Há quem diga que sou surdo que nem uma porta. Mas eu identifico-me mais com as paredes, mais ou menos espessas, elas ouvem e eu também, mas nem por isso deixo de utilizar aquela expressão tão saudosa de uma canção portuguesa de há muitos anos atrás, e confesso-me sempre que posso, seja às paredes amigas ou a quem me quiser ouvir.

Há quem sussurre na esperança de não ser entendido. Mas ao observar o movimento dos teus lábios, pura contemplação, talvez excitação, a tentativa de perceber o que se diz é ultrapassada pela vontade carnal de possuir quem o diz.

Ah os lábios, como me excitam esses lábios, fronteira da boca, os esconderijos precisos como um universo de buracos negros onde a vontade se perde para renascer na vontade frugal de um beijo.

Há esta audição pouco apurada, consubstanciando o desejo de tomar uma boca húmida, da chuva, de um mero olhar, uma qualquer maravilha saída das profundezas que apetecem tomar.

Há a gostosa sensação de saliva entre duas bocas, salientes tentações de desejo e tesão sem fim prolongados pela perfeição das curvas da tua boca que se me encaixam na mesma medida.

Há sentidos de vida que não se podem explicar e saber que das curvas da tua boca saíram as mais belas mensagens de amor tornam-me um homem sem vontade de penar nas amarguras em que me tentam enterrar sem sucesso.

Que da humidade da língua que se esconde atrás dos teus lábios de mel saíram momentos de puro êxtase saiu a minha tranquila forma de sorrir perante as adversas tentações do Diabo cruel que fica sempre do outro lado do espelho.

Oh como eu deixaria os chocolates de lado apenas para ter saliente o gosto indescritivel vindo de dentro da tua boca. O desejo de te contemplar no silêncio puro interrompido pelos movimentos sensuais encostados às curvas sensuais da tua boca.

E seria para sempre feliz mesmo que um dia das curvas da tua boca apenas coexistisse o olhar sensual que me fez perder-me de amores, irremediavelmente e me fez acordar de noite à procura do sabor inebriante, louco, vindo da curva mais pronunciada da tua boca, e tudo estava molhado, o calor tornar-se-ia insustentável...

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