terça-feira, 11 de março de 2008

002 Parede de Vidros




Até podia ser outro o contexto e um qualquer mentira tornar-se o mito. Aquele tipo de história que se entranha como realidade.

Mas porventura não te lembras que mesmo de olhos fechados a alma capta todos os movimentos estranhos que saem da tua boca?

A verdade tornou-se uma obsessão. Nem mais quiseste saber da origem das espécies, talvez para não teres que descobrir algum antepassado menos brilhante que o teu ofuscante ego, centro de um mundo onde nada se esconde, porque tudo é oco.

Queria juntar os meus lábios aos teus, perder a noção das batidas do coração sem ter que me preocupar com as mentiras. Vives na lúxuria de acabares os teus dias com um qualquer diamante de sangue no peito. Como se te tornasses eterna pela riqueza dos artefactos. Os faraós apenas são mitos que nas suas vidas foram apenas ensaios da soberba que glorificavam. O desdém pelo próximo, tal como tu fazes a quem gosta de ti.

Deste lado contemplo os despojos inglórios em que se tornou o teu corpo. E o que te resta se o eye liner já não esconde as rugas e as operações plásticas não forçam a juventude ansiada?

Apenas um corpo gasto e cansado. Mais cansada a alma que anseia pela perda desse ombro que nunca abrigou confidências, apenas um mar de intensa solidão. Pensavas que tinhas o mundo a teus pés?

E um dia quando escreveres algumas linhas acerca da tua vida, pensa bem, extrai todo o sumo possível e aproveita apenas o que lá ficar. Sabes, há aquelas laranjas grandes e há outras mais pequenas e acredita em mim, nem sempre se extraí mais sumo pela grandeza do fruto.

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