segunda-feira, 7 de abril de 2008
024 Fio de Fúria
Se o corpo jaz abandonado às loucuras da alma pouco há a fazer para impedir que os arautos da banalidade façam dessa premissa uma forma de declarar insanidade, afastando a suposta vítima daquilo que poderia ser um conceito de vida normal.
De que vale a fúria desgovernada do que resta para além de cada existência se o presente for uma prisão sem janelas para o futuro? Decerto haverá quem consiga viajar entre vidas abstraíndo-se do corpo presente. Apesar da ideia estimulante, viveríamos melhor aproveitando os breves instantes que a morte nos dá entre cada encarnação. E as lembranças das anteriores?
Solta-se um fio de fúria desencantado das emoções partidas em cacos, de frustração, pela suposta segurança de não arriscar. Desnecessário, tivesse havido outra ambição e apesar de jogar no escuro, algo teria sido feito para evitar as usuais lamentações.
E o fio de fúria, sempre em crescendo, vai criando um novelo cada vez mais confuso, afectando cada dia em que se podia simplesmente ter sorrido e apenas se destilaram lágrimas amargas, nunca entendidas, apenas prenúncio de morte, o crescente descanso ansiado.
Se tivessemos mais atenção evitaríamos pensar sequer que quem amamos estava assim à beira do precípicio.
De que vale a fúria ensandecida da frustração? As viagens sem querer sequer observar a luz ao fundo do túnel. Vale apenas para apressar um estado vegetativo permanente e reduzir toda a glória possível a cacos de uma existência que não vale nada.
E não seria talvez mais útil relembrar que há quem não tenha nada e em vez da fúria apenas conhece a felicidade no pouco que lhe é dado?
Nós os que temos tudo, o que valemos perante tanta miséria humana que nos rodeia?
Acompanhante musical: Pet Shop Boys - Se a vida é (That`s the way life is)
Etiquetas:
Crónicas sem taxa moderadora
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