terça-feira, 8 de abril de 2008

025 A sede de ternura


Queria ter-te aqui ao pé de mim, na vertigem de uma queda em livre tentação para cima de uma cama ao nível do chão. Onde o aroma doce exalado do teu corpo ardilosamente perfumado me colocasse os dois pés em cima dos mistérios de uma nuvem que até poderia enegrecer de repente abstraindo-nos do sucesso.

Queria ver-te assim, nua de trejeitos, acariciar-te os cabelos dizendo-te, em silêncio redobrado, o quanto te amo e a vida deixa de fazer sentido longe de ti.

Mas o sentido não se reduz a uma mera pessoa e as gotas de sangue que me caem das mãos dão-me a paz necessária para saber que o espinho no caule da rosa é apenas um pretexto para nos abrandar a líbido e que por isso não me posso permitir fraquejar ao primeiro sinal de antevisão das costumeiras mentiras e desgraças.

Queria fazer amor outra vez antes que voasses noutro sentido, abandonando as memórias do incandescente amor físico que nos tomou parte intensa da nossa juventude.

Mas entretanto foste-te embora. Antes que guardasse num baú as memórias do sexo quente, ardente. Fiquei confuso com a tua partida e temi pela chegada de um qualquer vampiro sedutor que viesse amealhar as próprias memórias. Tive que apressar a defesa do meu próprio sentido de vida.

Queria hoje ser a fonte inesgotável da ternura, dos passeios a pé pelas fronteiras perigosas da memória, da possbilidade de dar novas vidas a quem reconhece que sempre algo mais do que o normal toma a dianteira dos pagamentos, sentimentos da atroz humilhação a que se sujeita a alma prisioneira, esquecida.

Tenho sede da tua ternura, do teu doce desejo de vida em doses endiabradas de charme e subtilezas!

Acompanhante musical:

Pra Não Dizer Que Nao Falei Das Flores

ou

Geraldo Vandré - Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores

ou em Portugal:

Adriano És eterno no coração dos que acreditam em liberdade! Faria hoje 66 anos se fosse vivo, fica o testemunho eterno de um ser humano impar!

e

Jose Afonso - O Que Faz Falta

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