sábado, 19 de abril de 2008

038 Praticar o amor


Assim torna-se difícil encontrar um consenso entre o que se quer e o que se tem. Explicando melhor, há uma dependência dos sentidos em relação a alguém que ofusca a realidade, porventura mais complicada, com uma profusão de labirintos que não param de crescer. Um beco sem saída? Acredito que sim, mas se olhar para o lado posso sempre confrontar a realidade com outro tipo de desejo e sensações que apenas trazem a normalidade, rotina, sim a malfadada rotina, mas também paz e sossego. Não será esta a definição de felicidade a que estamos destinados? Acredito que sim, sobretudo no que à vida emocional diz respeito. O resto se estiver mal que se mude, custe o que custar. A pena pelo comodismo é a frustração futura de nunca ter ousado arriscar e há tantos exemplos de falhanços rotundos em pessoas formidáveis. Deixaram de o ser para si próprias quando se entrosaram num estilo de vida tranquilo, baseado no medo e na sensação que se deve sempre seguir todos os passos predefinidos por alguém. Há sempre quem se treva e são sempre esses que mandam no mundo. Mas dentro do mundo dos que se atrevem, outros mundos se abrem, outras perspectivas se agigantam. Porventura a liberdade de movimentos desaparece-lhes sem apelo nem agravo, mas aos menos arriscam viver e não falo apenas do facto de terem mais dinheiro para o fazerem.

A sensação de se ser acarinhado, num mundo onde as cores são infinitas, é algo que ainda vejo a preto e branco, sem que isso seja um defeito. Ou há ou não há, nada mais simples. Todavia tem de partir de dentro de nós a capacidade de amar, sem olhar para as lânguidas sensações de prazer que nos dão um certo corpo e sobretudo a química que se desprende da sua união, algo que faz o mundo girar, sem o sexo o mundo pararia, deixemos-nos de falsos puritanismos e de amores puros e doces.

Só somos amados se nos permitirmos a isso, de nada valem as amarguras ou pensar no corpo inerte depois de uma breve queda que afinal apenas partiu um modo de vida. Felizmente, digo-o, que há formas de partir a vida sem partir da vida em si. Melhor que tudo isso é sobreviver aos atentados que cometemos contra nós próprios recebendo a lição que sempre esteve de volta de nós, que sempre nos quis, que sempre nos envolveu.

Dizer 'amo-te' é tão simples, em fazê-lo é que reside o grande problema que muita gente não tem capacidade para o sequer perceber.


Acompanhante musical: Peter Cetera & Amy Grant - Next Time I Fall

Sem comentários: