sábado, 19 de abril de 2008

037 Uma vida normal


Ao observar o ambiente que me envolve, cruzo-me com a vontade de fuga imediata. A natureza que me circunda há muito que perdeu o seu encanto natural, os barulhos são sempre os mesmos, as pessoas confluem na mesma idiotice que as leva ao sonho de um ordenado para gastar numa casa, num carro, num maldito crédito que as afunda sem que elas se apercebam. O deslumbramento pela tecnologia tomou conta do bom senso e por isso gasta-se, desenfreadamente e sem consequências positivas. Os olhos, esses, são inundados com dilúvios de proporções bíblicas de sonhos de consumo quase sempre inacessíveis a grande parte da população.

Queria poder passear o meu filho na Avenida lá mais à frente, pelas nove da noite, quando o rebuliço do trânsito e do comércio se esgotaram para dar lugar aos estranhos habitantes da noite. Queria, mas não me atrevo, sem nos deixar levar num qualquer artefacto que acelere para longe dos meliantes, vagabundos que procuram o sentido da vida numa dose de droga e destroem o que for preciso por causa disso. Mas esses nunca foram os piores. As minorias que nos governam são o verdadeiro cancro que mina as sociedades, sob a capa da prosperidade, aquecimento global descontrolado, impostos em dia para quem não lhes consegue fugir. Pressão sem limites e depois os objectivos. Maldita confluência de destinos que nos leva a passar os dias a pensar em coisas que se vão perder na memória infinita do tempo que um dia há-de ter fim, para recomeçar outro tempo, com outra dose de bem e de mal para evoluir até à explosão final e isto sempre sem parar, numa roda interminável de destinos cruzados, de amor e de ódio, desprezo e indiferença, emoções e demência.

Queria ser pai de algum herói e ter uma heroína que não fosse pura, com os defeitos próprios da irregular vontade de amar, conviver ou de estar sozinho noutro compartimento da casa.

Gritar aos quatro ventos que estou vivo e que vou aprender a voar rumo a uma qualquer satisfação. Queria e talvez venha a ter, mas sem nunca desistir dos sonhos que me cirandam o corpo enquanto a alma vagueia. A vida é curta e cada segundo conta!

Acompanhante musical: Toto - "Africa"

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