domingo, 25 de maio de 2008

040 Aquele amigo que veio também


Queríamos estar todos presentes naquela festa que mais não era que a consagração de um estilo de vida, a perfeita consciência do que é respeitar as fronteiras da decência, algo que havia desaparecido com a profunda evolução dos galhos para o chão. Talvez a evolução fosse o real problema que afastava os crentes da costumeira necessidade de afectos reais.

Agora que andavam habituados a relações de bits e byts causava-lhes estranheza quando algum ser humano, de carne e osso, sangue e alma, tudo a vibrar, se intrometia na infame vida virtual onde, surrealmente, se sentiam ciúmes de fotos, palavras simples transformadas em afectos ultra-sónicos. Exagero total, assim a vida vai passando ao lado como se fosse um artefacto a apodrecer por dentro, sem que déssemos conta da real decomposição apenas visível alguns anos depois.

Na festa da chegada do nosso melhor amigo esteve outro, que também nos conduz à luz, abstraindo-nos das trevas onde tendencialmente caímos sem muitas vezes saber o porquê. É intrínseco ao ser humano a queda em abismos, apenas por meras desatenções.

E é então que aparece, vinda do nada aquela entidade, com amores e desamores normais que nos fascina e faz querer da vida um permanente motivo de celebração.

Aquele amigo que veio do nada também lutou pelo seu próprio espaço, sabendo criar as bases para que os sorrisos se espalhassem à sua volta e assim se foram abrigando todas as angústias e os desertos de vida que de outra forma não se manifestariam.

Acompanhante musical: Ney Matogrosso - O Beco

Sem comentários: