domingo, 25 de maio de 2008

041 Demonstrações de afecto

Antes da mudança quis fazer um inventário de afectos. Catalogar as emoções, separar os sorrisos e as lágrimas, anotar a ordem dos momentos de ternura e pormenores banais de mera vida. A conclusão foi demorada e os dias pareciam não ter fim, os afectos guardados na embalagem inviolável que tinha vindo da fábrica dos sonhos muito tempo tempo antes.

Foi complicado de perceber o porquê de tanta aflição, falta de tempo e abnegação quando mesmo ali ao lado tinha tudo o que precisava e a mera vida nunca chegava, nem tempo, nem acerto.

Antes da mudança fiz um sumário julgamento em que me condenei à distribuição da felicidade pela vida alheia antes que o coração parasse e a vida se domesticasse na infâmia do comodismo, de uma qualquer lei ou tradição.

Deixei de sonhar os afectos e fui à procura dos desejos incrustados em cada pedaço de almas. Das fronteiras onde há sempre alguém pronto a ajudar. Dos olhos abertos para não deixar escapar as oportunidades que a vida oferece, mas que teimamos em ignorar apenas por causa do medo incutido.

A vida é feita, em paralelo, de coisas belas e horríveis. O ser humano, por norma, é complexado e vive na ânsia do conforto efémero, aquietando-se na ignorância que lhe proporciona o comodismo e uma vida tranquila.

Até poderia ser bom, mas ao mesmo tempo é bombardeado com mensagens explícitas de ódio e desprezo pelo diferente do estabelecido.

Acompanhante musical: Héroes del Silencio-Entre dos tierras

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