sábado, 3 de janeiro de 2009

058 As flores da sepultura


Nunca me fui confessar ao padre, nem sei se por conhecer melhor as letras dos Xutos e Pontapés que a própria Avé-Maria, a original e sem pecados intermitentes.

Apenas sei que perante esta lápide fria que um dia ficará coberta de esquecimento estão memórias de um passado que jamais se tornará ausente.

Procuro pelo fundo do coração e é lá que vou encontrar a forma de me redimir de pecados de silencio, quando se pedia um pouco de presença.

Sem que o desejo fosse nunca amaciado pelo tempo os olhos deixaram de se cruzar com tanta frequência e os alertas foram-se escapando até me prostrar perante esta lápide, onde jazem memórias de inolvidáveis momentos que só nós quisemos saber. Fossem bons ou maus, acreditassem neles ou não.

Houve um dia de puro encanto em que à minha maneira rezei pela eternidade de um momento. Agora, neste momento em que apenas posso procurar pela tua alma ajoelho-me de novo, como se estando mais perto desta lápide te possa escutar de novo.

E trouxe-te a lembrança de um desejo vivido em forma de flor como que a querer fazer desfalecer um momento de dor incontido.

E por breves instantes soprou uma leve brisa na minha alma, demasiado apegada ao corpo mesmo no desejo de te reencontrar em liberdade.

E olhando de cima, o meu corpo junto à terra com a mão esquerda em cima da lápide, a direita pousando uma rosa vermelha de puro amor, soube que podia seguir tranquilo pela vida fora que nunca censurarias o renascimento do amor que há tanto tempo havia sepultado dentro do meu coração ferido!


10-05-2008


Acompanhante musical: Joy Division - The Eternal

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