segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

057 As dobras do ciúme

Ilha da Madeira em 2007


A vaidade torna-se uma doença na vida de quem se deixa dominar por ela. Consubstanciada com a mesquinha e obtusa soberba cria uma trindade diabólica que tudo envenena à sua passagem. Nascem então os ciúmes, talvez mesmo os auto-ciúmes porque olhar para o próprio umbigo e ter ciúmes da própria sombra se torna um exercício de pura estupidez. O pior será que quem o faz assuma que está sempre dentro da razão.

Os ciúmes não são razão e as fortunas de seres sem sentido definido apenas uma ilusão que nos faz pensar sem sequer admitir que para além da simples emoção há corações que nem se cansariam de bater se a existência física fosse eterna.

Para quê a doença efémera, egoísta e estúpida do ciúme? De nada vale o desejo protector se depois do presente que se esquece a cada segundo apenas resta o vazio que é compensado com buracos negros de estupidez, mas que são apelidados de amizade.

Sai-se de casa, quebra-se o elo protector de uma vida em dívida para algum ser inviolável, invisível como convém, que nos esfria as emoções de felicidade, como se ao contrário do que o filho que deixou morrer às mãos dos humanos se deixasse levar pelos ciúmes dos seres criados à sua semelhança mas que agem em conformidade com o seu inimigo, convenientemente, mortal.

E agora, nos resquícios do ciúme, ausente, perdido numa memória, apagado sem o devido velório, sempre se torna estranha a sua presença se depois se esgota o sentido de posse.

Não mais perder um segundo que seja com o ciúme, com a ingenuidade com que se pode mudar a mente de alguém guardando a sua existência num compartimento efémero repleto de vento e ar poluído.



Acompanhante musical: Morten Harket - Can't take my eyes off you

Sem comentários: