sábado, 28 de março de 2009

076 Um mar de gente

Foto de Pedro Matos



Confesso que nunca me ri tanto na vida ao saber que o amor que destilávamos por todos os poros só causava indiferença ao gato. O resto da vizinhança parecia enlouquecida e após a ida da polícia lá a casa até um bando de jornalistas de uma televisão sensacionalista queria fazer uma reportagem sobre o prédio do amor onde os púdicos já faziam vigílias pela reposição da normalidade e dos sexo com a única intenção de procriar.


Todos queriam saber o porquê de as pessoas naquele prédio se sentirem tão bem e porque eram sempre os melhores em tudo o que faziam. Fiquei boquiaberto com a situação, depois de alguns meses em que diariamente ia ter contigo a meio da noite, por ter perdido a privacidade desde que saía de casa até entrar no chamado prédio do amor. Havia sempre alguém que me perguntava qual era o segredo da felicidade e eu apenas ignorava, apenas conseguia sorrir para ti, só tu sabias quem eu era na realidade. E do sétimo andar, depois de nos amarmos, como sempre amamos, bebíamos outra taça de vinho e espreitávamos o nascer do Sol pela janela. Eram horas de tomar um banho e de ir trabalhar.


Foram tempos em que substituímos o sono pelo amor sem limites. E quando já nem sabia de ti houve um surto de crianças a nascerem naquela rua como nunca se havia registado em época alguma. Um verdadeiro mar de gente afluiu de novo ao teu prédio.



18-05-2008

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