Ouço muitas vezes falar-se em funerais decente para alguém desaparecido como algo a que todos têm direito. Talvez ofendendo, mesmo que não me preocupe, chamo a isso o direito de apodrecer decentemente e sinto-o ainda vivo.
Queria apenas que os corações jovens se demitissem das lutas inglórias pela mudança radical do mundo e apenas deixassem fluir a vida, juntando-se com grande naturalidade a outros que se apercebessem dessa necessidade de seguir pela mesma estrada, por muito sinuosa que fosse.
Apodrecer sim, mas gozar o melhor possível a vida, como se um ultimo orgasmo fosse a ultima das maravilhas que jamais poderiam ser adiadas.
Os dias têm sido de chuva intensa à qual se juntou agora o frio, tudo consubstanciado com uma espécie de solidão diferente porque não provocadora de ânsias suicidas.
Apodrecer lentamente, com um cigarro a poluir tudo o que possa, focos cancerígenos, pura distracção em relação a uma vida saudável.
E se olhares agora para mim, corpo de tal forma carente de um qualquer afecto, pode ser que vejas o auge de uma vida que até podia terminar, embora saiba que a alma se deixou ficar aqui para sempre.
Apodrecer sim, mas decentemente!
19-05-2008
Acompanhante musical: New Order - Thieves like us
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