sábado, 17 de abril de 2010

103 Oh meu amor!

 fonte da foto: aqui


Gostava de saber porque é que nas estatísticas os poemas são menos lidos às três da manhã, quando há tantos noctívagos ligados a um computador, afogados na solidão. Não lhes faria melhor saírem à rua, declamarem uma qualquer ode à vida e abraçarem um perfeito estranho como se disso dependesse o equílibrio da tensão?

Agora que saio do trabalho e não fecho a porta à chave, trago comigo todos os demónios do dia anterior. A minha sorte é que o rio está quase vazio e eles partem o sentido ao aterrarem.

Gostava mesmo é que o amor secreto que dizes sentir por mim deixasse de o ser, que te lembrasses que há vida para além das letras e da voz que te indica um qualquer destino que nunca imaginaria que pudesses acreditar.

Espero meu amor, que não te amo, que não precises dos lencinhos brancos para outra coisa, antes para secarem as tuas mãos que não sofrem as amarguras da dor de não haver correspondência.

A fé nos santinhos que tens aí à beira da tua cama, o tesão incontrolável que que ainda assim impede que te masturbes, convivem juntos, enquanto anunciam que cada vez há mais  divórcios e que as terras já não podem ser cultivadas como antes.

Não te sintas afogueada, a paixão eu posso controlá-la, fazer amor contigo e depois voltar a amar-te, mas não quero mesmo que dês outro uso aos lencinhos brancos e que o teu lado romântico desapareça no meio do meu coração obsoleto.

Gostava mesmo de te chamar meu amor, mas o amor assim, a uma só voz, está condenado ao sexo. E quem disse que também não é bom?

Sem comentários: