segunda-feira, 31 de março de 2008

016 Os lábios das pessoas


Confesso a Deus Nosso Senhor que sou um pecador sem remissão. Os lábios apetece-me tomá-los, sorvê-los como se fosse um vampiro a precisar de sangue para se alimentar.

Confesso este pecado de querer os lábios comprometidos, numa dança tribal em que as línguas se tocam e a saliva se solta, em sussurros de incandescente tesão.

Deus Nosso Senhor o Céu, fecha-me o Céu, porque vou querer beber daquela saliva que sai daqueles lábios gulosos, sorver todo o pecado que sair daquela boca de mulher.

Até que o coração se canse e mesmo que elas se traiam e as desgraças se abatam, quero beber amor dos lábios das pessoas, do sabor a chocolate das línguas entrelaçadas. Do sabor a champanhe de bocas endoidecidas.

Que Deus Nosso Senhor me feche nas profundezas do Inferno e o anjo Lúcifer me castigue. Mas antes, ah quero ir beijar aqueles lábios carnudos, gulosos, antes que outro se antecipe. Ai a gula!

Que me importa o outro? O tempo foge e a minha orgia de lábios encarniçados de desejo ardente para a traição vai-se esvaindo. E ela ali sozinha.

Confesso a Deus Nosso Senhor que nunca vou ser fiel à boca e aos beijos da mulher que diz que me ama e pratica o desprezo. Nunca direi que não à devassidão dos lábios que se me apresentarem com tusa para o amor.

Secreta esperança de um tempo que se esvai sem que prove a saliva misturando-se nos meus lábios. Os gritos enlouquecidos entre lábios e o seu sexo húmido de prazer, sem olhar a quem lhe possuiu o corpo.

Deus Nosso Senhor apenas mereço o Inferno, mas antes vou-lhe tomar a saliva que se solta debaixo da língua!

1 comentário:

Titá disse...

Sensualidade descrita de uma forma sublime e intensa. Um beijo é sempre um beijo. A entrega, a envolvência, a sintonia...enfim...sublime

Um beijo