terça-feira, 1 de abril de 2008

017 Procura-se viver



Fechei a janela. Podia jurar que nos silvos provocados pelo vento estavam algumas almas penadas a querer entrar.

Fechei a janela e ainda assim vi-me junto dos deserdados que a todo o custo me tentavam levar.

Estava frio e afinal tudo não passou de uma miragem. Vim-me deitar, nesta cama grande onde circula a vontade de um dia viver a dois, diria que qualquer coisa menos esta solidão.

Terá passado para outra dimensão a exigência e o pudor das pessoas que pretendia perfeitas.

Fechei-lhes a janela e que procurem outro abrigo para que possa viver na certeza que cada neurónio que se vai esvaíndo em futilidades precípitadas morrendo com o sentido de dever cumprido.

Fechei o acesso das almas penadas que se foram desta existência e ainda tentam manter uma rotina como se o corpo não se tivesse decomposto e alguma vitória se manifestasse nas batidas ausentes de um coração feito de nada.

E depois de fechar a morte na rua, onde terá muito que se entreter, luto firme contra a falta de vida que consome os dias de um corpo todos os dias um pouco mais decomposto, de virtudes, consciência por uma maturidade que de nada lhe vale.

Apenas a alma enquanto aqui estiver, que feche os acessos das trevas através de energias positivas, mesmo que inventadas, mesmo que nunca partilhadas.

Procuro pela vida que se me escapa por entre os dedos, cansados da inércia, de encher o vazio de uma alma quase no seu limite.

Procuro pelo desgaste e pelo cansaço que me façam viver longe das almas penadas em corpos frustrados!

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