sexta-feira, 18 de abril de 2008

036 Negar as evidências


1.

Torna-se penoso o teatro em que se torna o fingimento pela crença num futuro melhor, próspero, a pensar no que há-de vir, numa família maravilhosa que não faço a mínima ideia onde anda, quando teria tudo o que preciso aqui ao pé. Mas a vontade de negar as evidências torna-se algo mais importante, sem se porquê, talvez mágoas, inquietas sensações de repetições de fracassos passados, que se transformaram em situações que, de todo, não são normais neste mundo.

Passar do amor ao ódio e o inverso são sensações tão banais, tão incrustadas nas paredes espessas de almas que se querem melhor separadas, que quando encontram algo que lhes permite abrir horizontes, se esquecem que a sua união será algo de eterno, poderoso, místico até.

Tenho a firme crença que duas almas gémeas geram tamanha energia positiva à sua volta que os negativos do costume apenas existem para lançar mágoa que as afaste. É, por isso mesmo, preciso lutar contra conceitos e ideias feitas, preconceitos e torturas sem sentido.

Custa assim tanto amar, lutar pelo bem que é feito, mostrar gratidão e e seguir firme nas ilusões que nos permitam levar a direito uma vida plena de rotinas, lugares comuns e tédio?

2.

Vivo a minha sexta vida, é o que dizem, e eu gosto de acreditar que algo de poderoso vai ficar nesta. Por isso luto, faço o que tiver a fazer, mesmo deixando a vida regrada e que me dá a reforma certa, mas também a morte abreviada sem ter sentido na pele o gosto das vitórias ou derrotas de ter tentado.

Mesmo que me lance num abismo sem fundo de onde o corpo não se levante, permitirei que a alma fuja rumo à eternidade, a uma nova vida de novas rotinas e aventuras, talvez como uma mera bactéria sem significado aparente.

Mas tudo tem o seu significado, aparente ou demente, tudo se move em direcção ao nada, a tudo o que se merecer, pelos actos que se cometem, nesta ou noutra dimensão. Apenas importa que aconteça algo de diferente da inércia que alguns implantaram no mundo, seja pela via da repressão ou da destabilização, mas sobretudo pela ausência de informação.


Acompanhante musical: TRÊS TRISTES TIGRES - O mundo a meus pés

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