domingo, 16 de novembro de 2008

044 Lua de Saudade

Já não a vejo há alguns anos.

A memória mais abrasiva foi a daquela noite mesmo por baixo da Lua Cheia em que nós, vestidos apenas com o luar nos entregamos à paixão desenfreada que nos consumia havia muito tempo.

Amamos-nos até a vontade se esvair e sermos tomados pelo aroma fresco da terra que amenizava a humidade da madrugada num Verão daqueles em que o calor parecia aumentar a cada instante que passava.

As saudades tenho-as da Lua e do efeito que, ainda hoje, dá às memórias do que tivemos e que o tempo teima em não apagar.

Olho para o Céu e lá bem em cima uma estrela sorri, guardando para si o segredo submerso nas nossas memórias de desejo.

É certo que é de dia e que no outro lado do mundo, neste mesmo instante, dois seres hão-de amar-se da mesma maneira, com o mesmo desejo, em comunhão com a natureza, em contacto com a mística inconfundível que só a terra conseguirá difundir entre esses dois amantes.

Sinto-me em paz, sem sequer pensar que há algum motivo para me suicidar.

Feliz, mesmo sabendo que o pudor das pessoas afasta o amor em prol da solidão.

Realizado nos fugazes momentos de abandono da omnipresente solidão que apenas acentua o degredo da alma, como se a construção de estrelas que se cria à volta de um sonho se esvaísse ao amanhecer, quando a Lua que nos abrigou aquela paixão desenfreada é rendida pelo Sol ofuscante do amor sem limites!


Acompanhante musical: New Order - Regret

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