domingo, 16 de novembro de 2008

046 No silêncio destes dedos

Quando os olhos nem vêm mais nada que pequenos pedaços de paraíso em formas femininas, provavelmente adocicadas pelo ar que as envolve, pela beleza efémera que as promove, restam-me os dedos e o silêncio possível para conseguir juntar palavras, dando-lhes algum sentido.

Não sou um bicho esfomeado a qualquer preço, mas torna-se deveras impressionante o que os dedos fazem no imaginário das formas voluptuosas que alucinam a vista. É tudo efémero, até o charme que sai da boca da francesa de traços encantadores, sobretudo na forma como movimenta o corpo entre cada frase de uma das mais belas línguas que há no mundo.

No silêncio destes dedos vou destilando as delícias que todos os outros sentidos, em estado de alerta permanente, vão captando.

E os ouvidos poderiam nem escutar o pulsar imprevisível de corações jovens que carregam todos os sonhos do mundo.

E o olfacto poderia nem sequer absorver os aromas que, de tanto despertarem a libido, por vezes falsificam a ideia de corpos perfeitos.

E o olhar poderia nem vero que as roupas justas ao corpo fazem aos corpos, de repente apetitosos, como se tudo se reduzisse a meros actos de canibalismo, sofisticado, porque meramente virtual, algo a que as vidas em profunda aceleração se vão deixando cair, cada vez mais.

Até podia passar sem beijar uma dessas bocas carnudas que me passam a rasar os olhos, em permanente alerta, que ainda assim teria o silêncio destes dedos para glorificar este desejo.


Acompanhante musical: Faith No More - Stripsearch


Sem comentários: