domingo, 16 de novembro de 2008

047 O presente é duro de roer



O olfacto estremece perante as inúmeras propostas de desejo a que é submetido. Pensar eu que durante tantos anos tudo se resumia à quase asma que me impedia de suspirar sem que a bomba de oxigénio estivesse por perto. Felizmente isso passou e a vida tom, ou outro rumo, mesmo que continue a habitar as fronteiras perigosas da negligência, como de costume aliás. Nada de novo no horizonte quando se trata de pensar em desfrutar de facilidades.

As coisas são difíceis? E depois, é bom que assim seja, para que o tesão não se esgote em meras e postiças tentativas de engate que quase nunca dão certo. Quer dizer, até acabam de uma forma que apetece chamar de útil, porque saciar o corpo é uma forma sempre boa de encarar as escaladas por montanhas íngremes nem sempre propícias à felicidade imediata.

E se olhar para o lado e me abstrair do inebriante perfume que habita a minha companheira de minutos incertos o que resta? Lançar-me como um vampiro ao seu pobre pescoço? Ou ignorá-la olimpicamente sem nunca chegar a saber se ganhei ou perdi alguma coisa?

O presente é sempre duro de roer, sobretudo quando tantas vezes apetece quebrar o raio das regras e, por exemplo, copular, mesmo aqui nesta gigante sala de espera, perante, claro está, a indiferença dos valores morais de todos os outros que se limitarão a copiar o acto de loucura em si.

O presente e o bom senso são ossos bem duros de roer.


Acompanhante musical: Benvinda - Chico Buarque

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