domingo, 7 de dezembro de 2008

053 Um passo em falso


A distância dos lugares comuns provoca este tipo de efeitos na psique humana. O rio que trespassa a vista com a sua intensa beleza, a montanha que por vezes é engolida por nuvens baixas. Apetece dar um passo em falso e fazer parte dessa paisagem, em que os sonhos acontecem de olhos abertos e a negligência auto-infligida passa a a ser uma infame recordação que até faz sorrir.

Confesso, recomeçava assim tudo de novo, sem a mais pequena vontade de recuperar o stress agora adormecido. Ser o poeta dos olhos que miram a beleza algures esquecida de uma vida normal, uma qualquer sessão de sexo que apenas nos fizesse sentir amor após os nossos corpos se separarem.

Se dar um passo em falso é seguir pela linha incerta da vida, desejar um qualquer contexto de inesperado que leve à obliteração das angústias em crescendo, então quero cair no abismo e entrar no buraco negro que todos temem, porque a vida é de quem risca do seu mapa as torturas do comodismo baseado nos medos que são incutidos aos que, por alguns, são considerados de inferiores, apenas porque os outros não têm a inteligência e a força de vontade devidamente estimuladas.

Estes dias perto do desejo do desconhecido, do rio e da montanha embutidos em amantizadas posições de mero frenesim por uma quase doentia demanda por uma vida normal provocam efeitos de esvaziamento da anterior e profunda vontade de abraçar a morte com um desejado passo em falso.


Acompanhante musical: La Oreja de van Gogh - Geografia

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