quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

056 Eu resisto

Ilha da Madeira em 2007


Mesmo com a cabeça prestes a explodir há sempre a simples e concisa possibilidade de parar, mudar o contexto da história e seguir caminho na luta que se persegue com dedicada felicidade.

Mesmo com o corpo carente de afecto, assumida constelação de vontades baseadas em meros sorrisos que valem mais que vitórias profissionais, quase sempre inglórias, sigo caminho de peito aberto rumo ao desejo simples de apenas viver, sem sequer poder esmorecer.

Mesmo sem a vida simples que tanto anseio, a sintomática antipatia que sempre me acompanhou, a vontade louca de morrer sem sequer saber porquê, encontro um enorme alívio, incrustado num medonho dilúvio em que sigo de braços abertos sem medo do nada e do ausente.

Mesmo desencantado com os conselhos dos resistentes, das derrotas e dos aprumos dos menos inteligentes, dos que fingem em beleza num esgoto de ideias desgostantes, doenças sem cura e parcas sementes de utilidade ínfima, sigo de cabeça erguida, no meio da ermida, sem sequer ter tempo para alimentar as despedidas.

E assim eu resisto, na solidão que funciona como prisão, vibrante de angústia e profunda decepção, apesar de tudo encostado à vida, sempre incerta, dentro da água da chuva quase sempre alimentando a profunda desgraça dos homens que viajam pelo mundo em busca da bonança e da boa temperança de alguma mulher que apenas olhe para eles.

Resisto e assisto enraivecido dos alaridos sem sentido, animalescas sensações que apenas provocam tesão em vão.

Eu resisto e o coração que não se canse de bater!




Acompanhante musical: José Mário Branco canta 'Queixa das almas jovens censuradas'

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