quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

061 Em cada veia rasgada


Salónica, 2007


Quando te enganas a ti próprio e sorris como se o mundo se fosse curvar a teus pés é como se te tornasses no Deus que tanto veneras. A mentira torna-se verdade, a angústia um prazer e o sangue parece estar carregado de algum químico desinibidor que te solta por completo.

Mas não te censures que daí não vem nenhum mal ao mundo, que talvez até precisasse de mais alguma dessa euforia, se bem que natural ou apenas uma semente de fúria a prever o nascimento de uma qualquer nova cultura de massas.

Sim, o que tu queres é ser líder de um qualquer movimento, ancorar os teus desejos de mudar o mundo ao sangue impuro dos que se arrastam sem saber o porquê de nada.

Ah o desejo de foder o sistema, fazer de ti uma estrela e o complexo infinito reduzido a um mero grito de guerra. E navegar nas fronteiras de arame farpado em que cada veia rasgada apresenta uma nova solução para o mundo inquieto e em permanente ebulição, talvez até ao dia em que tantos como tu se lançarem na concreta solução da viagem sem retorno às rotinas que tudo castram, aos anseios levados aos extremos que apenas terminam em acidentes de consequências sempre desastrosas.

Queria falar-te do teu mundo de fantasia oca, ainda assim melhor que o imobilismo que persegue as inteligências alheias, talvez alheadas dos cérebros que pesam cada vez mais, sem se saber muito bem qual a sua utilidade quando o corpo não tem tempo para viver a vida como deve ser!


Acompanhante musical: Charles Aznavour - Desormais

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