domingo, 15 de fevereiro de 2009

063 Acordaria no teu sangue


Imagino apenas um cenário de Apocalipse, com poucos sobreviventes deambulando pelo meio dos escombros que sobraram da incúria humana, levada ao extremo pela presunção que a guerra seria uma forma de eternizar a subjugação do seu semelhante.

Não, desta vez descontrolou-se tudo e restaram apenas umas centenas de humanos ao cimo da Terra. Tudo o resto é visível em tons de cinzento escuro ainda mais acentuado pela permanente névoa que ficou depois da explosão da mãe de todas as bombas nucleares.

À minha volta apenas pedaços de humanos que ainda assim se arrastam na tendência natural de sobrevivência, mesmo sem saberem muito bem porquê, apenas seguem com partes do seu corpo para sempre desaparecidas.

Ainda assim vislumbro-te a cambalear. Quero acreditar que és tu, pelo orgulho do que tivemos, tudo me impede de te aceitar assim, morta, hajam os ataques que houverem.

Sigo caminho por entre dores absurdas, as entranhas tentam mudar de sítio, e só quando vomito
tudo parece serenar, mesmo que por instantes.

Ainda assim tento chegar-me ao ser que me aparentas ser pelos olhos cansados. Guiado por uma qualquer luz sigo o caminho que me leva até ao corpo ensanguentado, em pose crítica, sem chagas, de olhar irremediavelmente vazio.

Fecho os olhos e estendo as mãos, ainda assim sinto uma ligeira brisa vinda do ténue respirar, ou talvez fosse ilusão porque a hemoglobina fora do corpo é cada vez maior.

Acordaria alucinado no teu sangue e beberia a fonte da tua vida, até seguirmos juntos e amaldiçoados no Reino dos Senhores da Noite.

13-05-2008


Acompanhante musical: Annie Lennox - Love song for a vampyre

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