sábado, 21 de março de 2009

072 A morte acontecesse devagar




Puxava de um cigarro intensificando um estereótipo que me fazia sentir bem. À minha frente um grupo de jazz men reinventava 'Kind of Blue', nos cinquenta anos do seu aniversário.

A sala fervilhava de emoção na perspectiva de ouvir a nova sensação do jazz português a tocar o soberano Miles Davis. Mas a minha mente divagava por sensações paralelas em que monstros marinhos saíam do Tejo enlouquecidos pela merda despejada ao longo dos anos pelos humanos. E pelos japoneses que antes de serem engolidos por uma lula gigante tiravam fotos em família mesmo ali no cacilheiro, cheio que nem um ovo, pelo que ninguém dava pela falta deles.

Entre os momentos proíbidos de lançar fumo para o ar e as divagações, o grupo, curiosamente chamado So What, arrancava momentos de pura luxúria, e de certa forma era isso que me provocava e à Diana, que talvez fosse a personificação da deusa da caça. Ali estavamos nos 50 anos do divinal 'Kind of Blue'.

Entretanto o barman acercou-se de mim com outro whiskey duplo sem gelo, algo que me apetecia naquela noite assim como fumar, e mais ainda de me deixar ser caçado pela Diana de quem não tirava os olhos, enquanto o seu furibundo namorado tocava a bateria uma nota mais acima, destonado da perfeição artística dos seus companheiros.

E agora que a morte se acerca do meu corpo, enquanto uma bala dança dentro do meu peito, sinto uma tremenda alegria por este pequeno feito.

Oh a morte acontecesse devagar para poder saborear convenientemente este momento.

18-05-2008


Acompanhante musical: Miles Davis and John Coltrane - So what

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