077 E a gente morre de repente

Como pensar em qualquer dia no paraíso quando na rua se arrastam cada vez mais sem abrigo em abraços invisíveis ao Deus Todo Poderoso, por mais um dia em que sobreviveram ao frio intenso de um Inverno sem a família, uma mera prenda aberta debaixo de um tecto acolhedor?

As verdadeiras cores da vida encostam-se aos inúmeros deserdados a quem o governo já não consegue sacar os seus impostos que não servirão para a reforma, apenas para uns quantos gastos desnecessários.

Um sem abrigo apenas pede mais um cobertor, uma sopa quente, porventura um pouco do afecto dos tempos em que talvez o tivesse tido.

Como pensar que um dia repousei as ideias na morte sem ela me querer levar, enquanto esses homens e mulheres mendigam a própria alma que o corpo se vai aquecendo conforme se pode? Eles que, mesmo sem crenças, com a pele curtida pelo frio, o desejo desvanecido pela dor, meros farrapos humanos aos quais não prestamos atenção, seguem nus pela vida do que nunca haveremos de alcançar tal a nossa soberba.

Eis a vida dos humildes que apenas procuram abrigar-se do luar assassino e dos humanos aos quais, sabem eles, não pertencem de pleno direito.

Como agir em conformidade com a vida fútil quando tantos precisam da nossa ajuda e apenas nos limitamos a sorrir com a satisfação de não estarmos naquela situação?

A vida nunca foi fácil. Cabe-nos, aos que a têm mais facilitada, dar o primeiro na melhoria de vida de um mero humano que dela necessite.

19-05-2008


Acompanhante musical: MGMT - Kids