domingo, 6 de setembro de 2009

082 Tudo são palavras velhas

Foto de: Rui Pires


Caído na indiferença do desconhecido, assisti a uma cena que preferia ver apenas nos filmes.

A pizza estava saborosa e a chuva lá fora convidava a ficar por ali, junto daquele grupo de equatorianos e do casal de espanhóis que com o seu filhote saboreavam aquilo a que chamo de hipertensão com colesterol.

Tocou o telefone e ainda vendo o sorriso cândido da jovem mãe ao passar por mim, não imaginei a cena que se seguiria, a dor que se apoderou daquela jovem tão bonita que recebeu uma qualquer notícia daquelas que não queremos nunca receber.

Assustei-me com a minha indiferença, que se tem vindo a alastrar a toda a gente que conheço, como se fosse necessário voltar a reinventar as palavras para me poder sentar à mesa e reviver o que está morto dentro de mim.

A brincar, sem ter piada e mesmo suscitando sorrisos, informo a população que não tenho coração, que nada me assusta, que o mundo está mais do que podre para pensar em quem se vai e que quem fica que me procure que eu sou de fácil acesso, por mais remota que seja a minha presença.

A brincar digo-lhes a verdade e se mesmo que o bebé por vezes possa pensar que eu sou o pai dele e que gostaria de ter o meu próprio filho, apenas penso nisso como um monte de mentiras pegadas, porque quem não tem coração, não tem emoção, é humano mas sobretudo profano e para esse ser ter ideias feitas tudo não passa de palavras velhas.

24-05-2008

Acompanhante musical: Dissidenten: hkmt lkdar

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