segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

084 Bastava-nos ficar


Disse-te que tenho saudades, que há sensações que não se foram e apenas recebi o teu silêncio. Cada um tem o que merece e ambos estamos apenas a colher o vazio que semeamos.

O desejo de te tocar, te penetrar e agarrar para o resto da vida foi, em tempos, tão grande que custa olhar para este presente em que o passado planeado se está a cumprir e a falta de crença, vontade, talvez a necessidade física em que o filho tão ansiado, o amor tão anunciado e sempre adiado levaram ao egoísmo, naturalmente desencantado.

A vontade, o problema foi sempre vontade a mais e actos demasiado líricos, pouco precisos, fazendo de cada dia o dia de mais uma mentira coberta pela vontade quase ignóbil de juntar seres que tanto se amaram, tantas juras eternas fizeram, até um pedido de casamento aceite e no fim, bolas no fim a história acaba em vil indiferença sem qualquer crença que as saudades são um mero refúgio de um amor descontroladamente ansiado e talvez por isso nunca concretizado.

Bastava-nos ter ficado, em silêncio para o mundo exterior e a vida que anunciamos um ao outro tinha-se concretizado.

Tudo se esboroou com a crónica falta de paciência.

24-05-2008

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