quinta-feira, 6 de maio de 2010

108 O egoísmo cego da inveja

Quando te encontrei pela primeira vez, nem sequer julgava possível anunciar o amor perfeito aos deuses, que se banqueteavam com as almas penadas enquanto um leve sorriso de circunstância nos tomava de assalto.

Não te vou perguntar se ainda te lembras do que nos levou a tentar esbater as diferenças, ambos éramos jovens e sonhávamos com um futuro melhor. 

Quero que saibas que depois do gosto pela vida se ter esbatido por completo, o renascimento deu-se em doses inusitadas de prazer contemplativo, como se as sementes que restaram do pesadelo fossem apenas a necessária indumentária que cobrirá os nossos corpos desgastados, amotinados pelos buracos negros de existências vazias, apenas e só porque o egoísmo cego da solidão tudo deitou a perder.

Sinto-te aqui tão perto como nunca antes o senti, isso apenas exterioriza um passado de perfeito desconhecimento em que nos digladiavamos enquanto as bocas falavam de amor, de forma automática, sem pensar.

O desejo mantém-se apesar de o amor continuar a ser automático. Diria que apenas mudou de corpo.

Se o amor não fosse uma cegueira talvez fossemos o casal perfeito e as ervas daninhas nunca tivessem florescido, assim apenas amotinamos o pobre cérebro com seres que nunca nos vão merecer!

09-07-2008

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